Sobre o direito das mulheres e a sociedade.


       Um dos maiores problemas relacionados com o papel do professor, em minha visão, é a negligência do mesmo com relação ao papel social que sua profissão exerce. Não falo do papel social em um plano amplo, estou me referindo à sala de aula mesmo; tudo que é dito por quem está ministrando a aula é escutado e processado pelos alunos, seja opinião política, preferências ou o conteúdo da aula em si.
          Por outro lado, o que é um grande problema pode se tornar uma forte virtude. O professor, quando ciente do seu papel, transmite seu conhecimento através do diálogo, mostra o caminho do respeito e, principalmente, auxilia os alunos na ampliação de suas visões de mundo.
          Tenho uma professora na faculdade que merece todo o reconhecimento do mundo. Um mulherão, no melhor sentido da palavra; uma pessoa culta, inteligente, ciente do seu papel social, calma, forte, com total domínio do diálogo e defensora de seus direitos (do de todos na verdade). Já viajou para vários países pela universidade, conheceu pessoas do mundo inteiro e posso afirmar que é a melhor professora que tive até hoje. Aquele tipo de pessoa que dá vontade de você levantar e bater palma.
          Ontem à noite, na disciplina em que ela leciona para nossa turma em questão, começamos a ler um texto da Eliane Brum, “As mulheres que dizem não”. Confesso que não havia tido nenhum contato muito forte com a jornalista, sei que ela costumava publicar alguns textos na Época (que se tornou uma revista nem um pouco imparcial), mas agora publica na filiação brasileira da revista espanhola El país. É uma mulher inteligente, forte; consegui sentir isso lendo apenas esse texto de sua autoria.
          O texto discutido em aula trazia o direito das mulheres em pauta, e a crescente luta das mulheres na sociedade em que vivemos. Já quero dizer que apoio qualquer movimento que busque direitos mais amplos e que mude as bases preconceituosas de uma sociedade. Acho que ainda existem muitos homens escrotos por aí sim, uns até mesmo naquela sala de aula em questão.
          A discussão não foi muito calorosa, não sei se quem era contra ficou quieto para não ser atacado, ou simplesmente não queria iniciar uma discussão. Mas, ao longo da leitura do texto, vi muitas cabeças balançando e bufadas contidas. Não sei se era pelo discurso forte da autora, pelas verdades doloridas para alguns que ela proferiu, ou se pelo vocabulário que toca na ferida.
          Tenho um amigo que discordou de algumas coisas do texto; diria até que é um dos melhores amigos que tenho. Mas, a diferença entre ele e outras pessoas, é que após DIALOGARMOS sobre o texto, conseguimos chegar a um consenso e acredito que ambos saímos diferentes da discussão, com ideias que antes do DIÁLOGO não possuíamos. Discordar, na minha visão, não é o problema. O problema é quem ficou lendo com uma cara de deboche e soltando umas bufadas esporádicas.
          Ao final, escutamos alguns relatos, e como a classe de uma faculdade é algo muito diverso e nada singular, os debates sempre são a melhor parte de uma aula. Talvez o que mais me marcou foi o que um cara que estuda engenharia elétrica disse; ele trabalha (ou trabalhava) em uma fábrica aqui do Rio Grande do Sul, situada na Serra Gaúcha, uma indústria muito grande na verdade, com reconhecimento no Brasil inteiro. Na fábrica em questão, as mulheres estavam se reunindo com os sindicatos para fazerem um protesto contra uma nova norma da empresa, na qual elas deveriam descansar quinze minutos depois de um tempo X de trabalho. Os homens não precisavam, podiam trabalhar direto. Todos nós, inclusive a professora, ficamos chocados por isso estar acontecendo em 2018, e ainda mais aqui perto da nossa cidade. Acho que depois daquele relato, um conceito que apenas não passava de teórico, virou um exemplo prático.
          Que caminhemos para o diálogo e progresso (a não ser que o progresso não seja tão positivo assim).
 

3 comentários:

  1. O que eu mais sinto falta na minha escola é o contato direto e verdadeiro entre aluno e professor. A falta de didática e de vontade é algo que me deixa extremamente irritada (por mais que eu saiba os motivos dessas atitudes). :)

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