Os sonhadores (2003), de Bernardo Bertolucci - recomendo esse filme com todas as minhas forças.

          Henri Langlois foi um dos maiores arquivistas de materiais cinematográficos da história do cinema, e obviamente um dos maiores cinéfilos de todos os tempos. A sua relevância no filme Os sonhadores (2003) é baseada em um de seus legados: o Cinémathèque Française, uma organização de cinéfilos que até hoje tem um dos mais amplos arquivos de cinema da história. O fascínio de Matthew pelo Cinémathéque, um jovem que decidi partir dos Estados Unidos para aprender sobre cinema e a língua francesa em Paris, leva o garoto a trilhar caminhos muito diferentes daqueles que estava acostumado em seus primeiros dias na capital francesa. Quando conhece Isabelle e seu irmão Theo, ambos cinéfilos como ele, a vida de Matthew em Paris começa a se transformar, com sentidos e rumos diferentes dos de praxe.



           Além do clima cinematográfico, e do fervor nas discussões sobre cinema entre os três jovens, a política e as manifestações que estavam acontecendo durante a década de sessenta na França são particularmente marcantes. O fervor das manifestações estudantis que buscavam o pensamento progressista e libertário, afirmando que o conservadorismo deveria ser deixado de lado, mostra uma sociedade que buscava mais liberdade. O tipo de liberdade que não é de graça, e sim conquistada, e no caso da França de 1968, as lutas sociais concretizaram-se em uma grande greve no dia 30 de maio de 1968. É nesse clima político que os jovens fumam, bebem, transam, debatem, consomem cinema e uns aos outros. Matthew em alguns momentos é contraditório em seu discurso, principalmente quando diz que é contra qualquer tipo de violência, mas não faz críticas ferrenhas ao governo dos EUA que estava envolvido na Guerra do Vietnã. O fato de Theo ter um estátua do Mao no seu quarto e recitar passagens do Livro Vermelho diz muitos sobre os seus ideais. Durante todo o longa, Isabelle não se envolve nas conversas. Ela prefere falar dos prazeres da vida, e não apenas discursar, mas também experimentar.



          A primeira visita à casa dos irmãos, Matthew conhece um pouco mais da família dos dois. A mãe britânica aparece apenas em duas cenas, e não tem uma maior participação. O pai, poeta que fez um monólogo durante o primeiro jantar com Matthew, não tem uma relação muito boa com os filhos. Quando os dois decidem sair para viajar por alguns dias, Matthew, a pedido de Theo e Isabelle, compartilha da casa vazia com os dois irmãos franceses. O quadro de Delacroix que Matthew encontra no seu quarto provisório diz muito sobre alguns conceitos que o filme aborda e discute: a liberdade, a arte sem pudor e o repúdio a tudo que é autoritário e conservador. Nos dias em que os três jovens passam juntos, além de discutirem sobre cinema e de beberem os vinhos finos dos pais de Theo e Isabelle, transam muito entre si e tentam descobrir que tipo de relação está acontecendo naquela casa parisiense. Já aviso de antemão que o filme não tem pudor nenhum em retratar as cenas de sexos. A primeira transa entre Isabelle e Matthew acontece no chão da cozinha, enquanto que Theo prepara um omelete com um cigarro pendendo do canto da boca. Talvez não seja o melhor filme para os conservadores de plantão. As cenas de nudez, em minha opinião, retratam a busca pela liberdade, a nudez de preconceitos e total despreocupação com padrões. Recomendo esse filme com todas as minhas forças!




3 comentários:

  1. Minha amiga me indicou esse filme e agora vejo a sua resenha. Acho que é um sinal para eu parar de procrastinar e ver esse filme logo. Valeu pelo incentivo!

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