Mês de cães danados, de Moacyr Scliar


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          Esse é um livro que mostra definitivamente que Moacyr Scliar veio do estado do Rio Grande do Sul, afinal seu conteúdo regionalista e os dois principais cenários que ambientam esta estória demonstram de forma nítida a situação regional do personagem e da trama. O autor é porto-alegrense, e a cidade urbana de Porto Alegre torna-se viva em sua narrativa, tanto com suas belezas e importância histórica, quanto com seus ratos, imundices e pessoas que vivem à margem da sociedade. O protagonista da trama, aparentemente um mendigo morando perto do Palácio Piratini em Porto Alegre, sede do poder executivo do Estado do Rio Grande do Sul, relata sua história de vida para um paulista, que não é nominado ao desenvolver do enredo. Todos os dias, ao decorrer de uma semana, o paulista deposita algumas moedas no fundo de uma lata de doces em troca de mais uma porção da história daquele gaúcho dos pampas. A narrativa é muito diferente, os diálogos do passado com os do presente se misturam em uma escrita muito sagaz de Moacyr Scliar. O humor é presente em todo o relato, mesmo que muitas passagens sejam marcadas pelo sádico e pelo horror. O plano de fundo da linha temporal do passado são os anos antes da ditadura, quando a situação política do Brasil era muito delicada e instável. Jânio Quadros havia renunciado, depois de apenas sete meses de governo; Leonel Brizola movimentava o povo no Rio Grande do Sul; os militares acreditavam que Jango tinha relações com o partido comunista, etc. Mesmo com um plano de fundo muito agitado, eu diria, Mário, o protagonista da estória, conta que enquanto jovem e estudante de Direito, pouco se interessava sobre o que estava acontecendo no cenário político de seu país. Começa a relatar sua história desde o início, quando vivia nos pampas gaúchos, tinha uma queda por sua professora de Francês, praticava esgrima e mantinha relações muito estranhas com seu pai e irmão mais velho. Ao pensar na história de vida dos personagens da fazenda, consigo ver muitos estereótipos aqui do sul (moro no Rio Grande do Sul), mas que na verdade não estão completamente errados. Muitos "gaudérios" daqui são exatamente como os descritos no livro, incluindo Mário. Já vou logo dizendo que o personagem principal me fez passar muita raiva, com suas atitudes extremamente burras, impensadas, machistas e individualistas. Quando Mário decide que quer morar na capital e estudar Direito, pede para o pai custear todos os seus gastos, mesmo sabendo que a situação financeira na fazenda não era das melhores. O agora estudante de Direito vive uma vida de luxos, tem um Cadillac, mulheres, bebidas, churrascos, apartamento e um revólver na cintura. A tensão da trama aumenta muito no final do livro, e posso dizer que me surpreendi bastante com as últimas páginas; sem comentar no incrível desfecho do livro. Vocês já leram algum livro do Moacyr Scliar? O que acharam? 

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