Vapor condensado - folhas vermelhas (parte 1).

  Era um dia de outono que poderia ser classificado como inverno; ao abrir a janela do meu quarto às dez da noite eu senti o vento cortante que trazia boas lembranças e fazia meu corpo reunir uma energia que só o frio trazia. Eu queria muito sair de casa; o frio, ao contrário do que acontece com a maioria das pessoas, apenas me motivava a sair pelas ruas marcadas pelas folhas de tons vermelhos. Eu gostava de sair e caminhar, fumar uns do maço de Camel, olhar pro vapor condensado que saía e pairava na frente da minha boca devido ao frio, prestar atenção nas casas e como tudo mudava no período da noite, observar os halos produzidos pelos postes de luz que percorriam toda a rua. Decidi que hoje, sexta-feira, dez e dezesseis da noite, eu sairia mais uma vez pelas ruas do meu bairro e ficaria apenas imerso nos meus pensamentos. Enquanto ficava com os braços apoiados na janela aberta do meu quarto no segundo andar, olhando bem de perto para as folhas da corticeira-da-serra que chegavam a tocar a janela do meu quarto, pensei que precisaria me agasalhar bem. Eu gostava muito daquela árvore, minha mãe sempre se orgulhava de falar sobre a altura que ela havia chegado, como se a beleza de uma árvore fosse medida pelo seu tamanho. Antes de me dirigir ao armário notei que a vizinha estava passeando com seu cão, o que já era de praxe mesmo nos dias mais frios, mas uma sensação de angústia andava junto com ela. O cachorro parava constantemente, também com um vapor condensado na frente do focinho, para olhar em direção à dona com uma cara de tristeza, aquela feição de impotência à frente de um problema. Quando eu olhei para a face da mulher, a florista que morava na frente de casa, notei que ela chorava. Raiva ou tristeza? Não consegui dizer. Fiquei acompanhando seu caminhar até ela sair do meu campo de visão na esquina lá embaixo. Abri o armário, peguei um moletom da editora que eu havia trabalho no meu intercâmbio para Londres; ele era todo preto com um pinguim laranja na frente, um cachecol da Corvinal que eu havia comprado no passado da infância, mas ainda usava porque havia pago trinta e oito dólares, e o resto do meu maço usual de Camel. Desci as escadas com cuidado para não acordar ninguém na casa, pisando nos locais mais macios do carpete. Abri a porta e saí para o frio. 

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