Leitura finalizada: "Tartarugas até lá embaixo" / "Turtles all the way down", de John Green.


   Quando vi que mais um livro do John Green estava em processo de escrita e publicação, logo ao ver o título da obra fiquei pensando sobre o que seria esse novo romance. "Tartarugas até lá embaixo" ou como li no original, "Turtles all the way down" é um título, no mínimo, peculiar. Sim, existe uma explicação tanto para o título como para a capa, mas vamos deixar para falar sobre isso mais depois. Eu já havia lido apenas um livro do autor, "Looking for Alaska", que também é o romance de estreia do John Green, mas com um clima totalmente diferente desse seu novo livro. Gostei bastante de Looking for Alaska, o livro todo tem um clima muito parecido com "O apanhador no campo de centeio" do Salinger, com uma escrita um pouco diferente e sem um romance idealizado.

   Gostei do livro, já posso dizer isso de cara. Se você está procurando um livro com romance estereotipado e a menina que fica sonhando e pensando vinte e quatro horas no garoto (ou ao contrário), acho que você deveria escolher outro livro do autor. Em "Tartarugas até lá embaixo" encontramos uma protagonista que não possui nada de extravagante, não é vista como o centro do universo e apresenta problemas palpáveis. Este, em minha visão, é um ponto muito forte do livro. John Green não tenta criar uma personagem que seja boa em tudo, ou que se destaque em algo; a heroína que vai salvar o dia com seu carisma e inteligência. A personagem existe, possui problemas, sua melhor amiga não é a pessoa mais confiável e carismática do universo, sua mãe talvez não a entenda do melhor modo e o romance na estória, em minha opinião, foi retratado de um modo muito real. Quando digo real, quero dizer que o autor entende como um romance de adolescência funciona na maioria dos casos, e dessa vez não tratou a paixão de um casal de dezessete anos como a coisa mais séria e importante do mundo. O amor é descrito de uma forma muito adulta e madura, como algo que é cíclico; começa, acaba, recomeça e todos continuam com suas vidas no final de tudo.

   Aza é a nossa protagonista, e desde seu nome já começamos a sentir algumas "sacadas" muito perspicazes do John Green, porque Aza trespassa todo o vocabulário, de A até Z. Ela é uma garota comum, está no último ano do high school, pensando sobre a faculdade, seu pai faleceu após um infarto, sua mãe muitas vezes é superprotetora e sua melhor amiga (foi a visão que tive) é uma pessoa muito falsa e interesseira. Daisy é o nome da amiga em questão, vem de uma família um pouco mais pobre que Aza, escreve fanfics sobre Star Wars e namora o Mychal, um carinha que apresenta uma visão interessante sobre arte. A grande construção da personagem da Aza é feita na introspeção psicológica da personagem, porque Aza possui TOC, ou um transtorno muito parecido com isso; pelo que me lembro não temos uma definição muito exata sobre o nome do seu transtorno. Sendo em primeira pessoa a narração do romance, conseguimos entender muito bem tudo que passa pela cabeça da Aza durante todos os momentos da sua vida. Acompanhar os diálogos internos e o turbilhão de pensamentos obsessivos foi algo muito interessante e agonizante em algumas situações. O transtorno da personagem é demonstrado em muitos episódios, mas principalmente no seu "medo" de ser infectada por uma bactéria a qualquer minuto, e pela obsessão de abrir um machucado no seu dedo a qualquer momento para checar se não está com alguma infecção.

   Através do TOC da nossa protagonista conseguimos entender a capa do livro, uma espiral que vai diminuindo, pois Aza descreve os turbilhões de pensamentos como se fossem um furacão ou espiral, no qual ela se vê sem escapatória. Já o título, "Turtles all the way down" ou "Tartarugas até lá embaixo" não foi nada criativo da parte do senhor John Green como algumas pessoas estão falando por aí na internet. O título é baseado em uma metáfora, mas eu já li sobre essa mesma metáfora na introdução de um livro do Stephen Hawking, então é algo meio que já conhecido pelas pessoas, não foi criação do autor em si.

   O plot principal pode ser encarado como um pequeno mistério que acontece com o pai de Davis, o garoto pelo qual Aza meio que tem uma atração. Davis é um personagem muito interessante, é aficionado por astronomia, tem um iron man de brinquedo que anda sempre com ele, seu pai (desaparecido) é milionário, e consequentemente, mora em uma mansão com seu irmão e uma tuatara (tive que pesquisar no google, um dos animais mais sinistros ever). A relação de Aza e Davis não é nada romântica, é bem estranha na verdade. Os momentos mais interessantes eram as conversas entre os dois sobre astronomia, nas quais eu vi que o John Green parece gostar muito do assunto. O uso da tecnologia é bem empregado nesse livro, algo que normalmente acaba ficando meio "falso" na maioria dos romances YA. As pessoas realmente usam o celular e o computador do modo que nós usamos, não sei explicar muito bem, mas os diálogos pelas mensagens foram muito bem escritos.

   Indico, se você se sente confortável, a ler o livro em Inglês, é super acessível para quem está querendo começar a leitura em outra língua (a maioria dos livros young adult são assim). Livro curto, que não precisa ter o plot mais bem bolado do universo, retrata muito bem o TOC, fala sobre a vida como ela é, não precisa ficar romantizando tudo e realmente bem escrito. Recomendo mates.
   
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(Algumas opiniões com spoilers para quem já leu o livro)

1. Só eu que achei horrível a parte em que o Davis tira cem mil dólares de uma caixa de Cheerios, dá para a Aza e ela simplesmente aceita e DEU. WTF?
2. A parte do hospital, que a Aza se levanta e bebe o hand sanitizer lá mostrou o extremo do transtorno de um modo bem "real" na minha visão.
3. Achei a Daisy uma pessoa ruim as f**k.





   



 

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