Lago negro - folhas vermelhas (parte 2).

   Algumas ilhas de luz mantinham a escuridão afastada em alguns pontos da rua, do mesmo modo que minhas roupas mantinham o calor contido ao redor do meu corpo. Aquele cachecol preto e azul realmente conseguia cumprir o seu papel. A florista, como de costume, não havia recolhido a bosta que seu cachorro havia acabado de fazer na calçada da nossa casa; educação não era seu forte. Tirei um cigarro do maço de Camel, fiz uma concha com as mãos para proteger a chama do vento cortante e deixei a fumaça correr pela traqueia. Sempre a primeira tragada era ruim, mas depois eu fumava mais por hábito do que por vontade, do mesmo modo que bebia meio litro de café pela manhã, xícara após xícara, simplesmente pelo hábito. Eu pensava em qualquer tipo de coisa enquanto caminhava por aquelas ruas marcadas pelas folhas caídas das árvores. Apenas alguns resquícios das folhas ficavam no centro da estrada, o resto ficava aglomerado perto do meio-fio. Outono era alta temporada na serra, perdia apenas para o inverno; e eu conseguia diferenciar os berros dos turistas bêbados de vinho daqueles já usuais. No momento, enquanto olhava para os pinheiros e colocava algumas pinhas no bolso do moletom para acender a lareira pela manhã, estava pensando no meu personagem de RPG. Queria ter escolhido ser um bardo, mas todo mundo do trabalho ficava falando que eu tinha que ser um mago. Eu trabalhava em um café, que servia como pub à noite. Quando cheguei à esquina consegui ver o vapor que subia do lago com águas negras que servia como um dos maiores pontos turísticos da cidade. Uma camada de neblina cobria a extensão das águas, e a única coisa que eu conseguia pensar no momento era que esse era um local digno de um conto do Poe ou romance do Stephen King. A florista, com a coleira pendida em seu braço esquerdo, com o olhar fixo na neblina, apenas adicionava ao clima lúgubre do lago.

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