Memórias do subsolo, de Fiódor Dostoiévski



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    Tive duas oportunidades de entrar em contato com a fascinante escrita de Dostoiévski. A primeira, no terceiro ano do ensino médio, quando li "Crime e Castigo" e fiquei fascinado e consequentemente intrigado; a segunda, no segundo semestre da faculdade, quando acabei exatamente no dia de hoje de ler "Memórias do subsolo". Nos dois casos eu tomei um papel diferente de leitor frente a livros escritos por uma das mais brilhantes mentes do século XIX. Muito dessa diferente forma de julgar a leitura é a expectativa do grandioso que uma obra clássica pode gerar - pelo menos isso sempre acontece comigo. Enquanto estava lendo "Memórias do subsolo" fiquei procurando, do mesmo jeito que fiz quando li "Crime e castigo", a grandiosidade de uma história escrita por Dostoiévski. Posso dizer que em ambas as obras eu a encontrei. É notável, na narrativa e principalmente na introspecção psicológica, a diferença entre um escritor, ou escritora, que viveu sentado em uma cadeira, bebericando um café e fumando uns cigarros, quando comparado com alguém que realmente viveu as mazelas mais podres, inesperadas e absurdas da vida. Dostoiévski foi preso, condenado à morte e mandado para um campo de trabalho forçado por nove anos na Sibéria. Quando Dostoiévski escreve sobre o sentimento de quase morte, ele realmente sabe do que está falando. As introspecções psicológicas, uma das marcas mais fortes de seus romances, realmente nos faz submergir em um drama muito lúgubre do personagem. Durante os anos de trabalho forçado na Sibéria, Dostoiévski tem contato com a parte mais sórdida do ser humano, e é nessa etapa de sua vida que o autor começa seu amadurecimento espiritual. "Memórias do subsolo" foi escrito durante essa fase da vida do autor russo, uma das obras de transição, como são chamadas pelos críticos aquelas que foram escritas entre a juventude e a maturidade ("Crime e castigo", "Os irmãos Karamazov" e "O idiota" são exemplos de obras da Maturidade). Acho muito difícil escrever sobre a trama do livro em si, posso tentar escrever um pouco sobre o narrador, o que na verdade já diz muito sobre o núcleo do livro. A narrativa é em primeira pessoa, conta com uma forte introspecção psicológica, principalmente na primeira parte do livro. Nos primeiros capítulos, o protagonista, que não é nomeado ao longo do livro, demonstra ser um homem confuso e enveredado nas mazelas mais escuras da vida. O início do livro é marcado por um longo monólogo sobre como a vingança se dá na mente do ser humano, sobre a evolução da ciência, sobre o racionalismo, sobre a dor e os prazeres do personagem. A segunda parte do livro toma conta de acontecimentos na vida do inominado, principalmente sobre seus planos para tentar mostrar sua superioridade quando comparado com as outras pessoas. Em muitas passagens do livro fiquei com raiva do narrador, principalmente quando delirava sobre sua infundada vontade de arruinar a vida de certos colegas da infância. Ler Dostoiévski é uma experiência literária que precisa ser vivida antes da morte. 




    

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