Morangos mofados, de Caio Fernando Abreu.

Título: Morangos mofados
Autor: Caio Fernando Abreu
Ano de publicação: 1982


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     Caio Fernando Abreu consegue se renovar de forma tão orgânica, que quando leio seus contos no tempo atual sinto que poderiam muito bem ter sido escritos por mim. Quem não se identifica com os temas abordados pelo autor é quem não viveu intensamente a vida; Caio escreve sobre amor, drogas, decepções, depressão, trabalho, deveres, sentido da vida, universo, música, poesia, literatura, etc. Seus contos carregam toda a carga emocional que o escritor suportou durante sua vida, tanto pela repressão que sofreu na ditadura militar, quanto pelas experiências que teve no período que morou na Europa. 

    Em morangos mofados, um livro de contos publicado no início da década de oitenta, Caio divide seus contos em duas partes: mofo e morangos. Gostaria aqui de comentar alguns dos meus contos preferidos, porque acho demasiadamente difícil fazer uma resenha sobre um livro de contos com obras tão ímpares quanto esse livro.

    "Luz e sombra" foi o primeiro que me chamou a atenção, fique relendo até tentar encontrar alguma sentido; só depois que conversei com um amigo sobre esse conto que me "toquei" de algumas coisas. Em "luz e sombra", o narrador fita incessantemente a paisagem da janela do seu "quarto" muito pequeno, que a meu ver na verdade é uma cela de prisão; não apenas pelo tamanho, mas sim pela vontade não atingida do personagem de sair daquele lugar para poder ir à praia. Os morcegos no conto na verdade são os militares do período da ditadura, e o barulho que fazem pode muito bem ser relacionado tanto com tortura física quanto emocional. 

    "Caixinha de música" demonstra as diferentes faces que o amor pode tomar; o conto é formado por metáforas que vão se encaixando com a realidade de um casal que está deitado na cama esperando o sol nascer. Bebem com a mão esquerda e fumam com a direita, conversam sobre sonhos, tudo isso com o som de uma caixinha de música. O final desse conto é bem surpreendente, cru, e infelizmente realidade. 

    "Aqueles dois" foi um dos contos que mais me tocou; falando sobre simplesmente dois homens, Saul e Raul, um com um ano a menos que trinta e o outro com um a mais. Um que é frustrado por ter cursado Arquitetura, fica fazendo rabiscos de faces com olhos bem grandes e tem um quadro do Van Gogh em seu quarto. O outro canta, toca violão e gosta de cinema. Ambos trabalham no mesmo escritório, tentando reconstruir uma vida destruída por desilusões. Por interesses em comum, se aproximam, começam a gostar de passar o tempo um com o outro; o que acho interessante é que ambos não rotulam o que existe entre eles, é apenas um sentimento bom de compartilhar conversas, cigarros, músicas e filmes um com o outro. Os olhares dos colegas de trabalho sempre repousam sobre os dois quando estão tomando um café e conversando sobre o que aconteceu no final de semana. Não quero contar sobre o final do conto para não estragar a experiência de vocês, mas digo que é um bela obra para refletir sobre tantas coisas: amizade, amor, rotular relações, etc. 



    Imagem relacionada

Um comentário:

  1. "quando leio seus contos no tempo atual sinto que poderiam muito bem ter sido escritos por mim" ²
    é exatamente essa a conexão que eu tenho com esse autor, sinto que estou me lendo. feliz de ver você se embrenhar nesse mato sem volta. =)

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