"The pit and the pendulum"/ "O poço e o pêndulo", um conto de Edgar Allan Poe.

  Então, vamos conversar um pouco sobre o melhor conto do Poe que eu li até o dia de hoje. Esse conto é um pouco diferente dos outros que já li/resenhei aqui no blog, primeiramente pelo tamanho do mesmo, é um pouco maior que o restante. A narrativa é um pouco diferente, possui uma cadeia de eventos mais detalhada e maior; os eventos que ocorrem no conto possuem consequências próximas e futuras. Em suma a trama trata sobre a tortura praticada pela Inquisição espanhola sobre o protagonista da estória, o qual não sabemos o nome e nem o motivo específico pelo qual está sendo perseguido pela Inquisição.

  Com a descrição do início do conto conseguimos entender que nosso personagem principal se encontra em um estado sonolento, em um tipo de transe e que constantemente desmaia. Ele começa a descrever o local ao seu redor; homens com mantos até o chão que proferem sua sentença. Todo o início do conto possui uma escrita que transmite um frenezi de pensamentos.

  Agora, tudo começa a ficar realmente macabro quando nosso personagem, ao sair de um de seus constantes desmaios, acorda em um local completamente tomado por um breu. A grande sacada desse conto, na minha opinião, é o modo que Poe brinca com os sentidos do leitor. Neste caso, enquanto o homem acorda e se depara com um local completamente desconhecido (na verdade ele não faz a mínima ideia de onde está), o leitor, ao mesmo tempo, também se encontra em um estado de frenesi, medo e pânico. Nós descobrimos o que está ao redor do protagonista junto com ele, e essa é uma grande "sacada" do conto. Nos primeiros momentos após o homem acordar, eu podia jurar que ele estava enterrado, e fiquei a cada palavra mais receoso até descobrir se minha teoria era ou não correta.

  Então, minha teoria estava errada. Nosso protagonista se encontra em uma espécie de cela de uma masmora, mas ele ainda não consegue ver absolutamente nada. Contando seus passos ele consegue adquirir uma ideia do tamanho do recinto, mas mesmo assim tudo é estranho, tanto para o personagem quanto para o leitor. Em uma de suas tentativas de cruzar a sala, ele tropeça em algo e cai com o peito no chão (eu fiquei me colocando no lugar do homem durante toda a leitura, e isso apenas aumentou um aperto no peito que tive durante toda a narrativa. Não consigo imaginar o que faria se me encontrasse em um local que não consigo enxergar nem um palmo à minha frente. Acho que ficaria completamente louco). O homem, caído no chão da cela, nota algo muito estranho na sua queda repentina. Ele nota que sua face está um pouco inclinada, de modo que sua testa não está tocando o chão, mas seus lábios sim. O que leva nosso personagem a perceber que existe algo de estranho em sua frente. Começa a apalpar seus arredores e descobre que há um poço ali mesmo, e que apenas por um detalhe do destino ele não caiu em direção à morte.

  Quando os padres da Inquisão percebem que o plano não deu certo, colocam algo na comida do homem e o colocam novamente em um estado de sonolência/desmaio. Agora, meus caros, é que o conto fica realmente assustador.

  Quando o protagonista acorda, novamente Poe utiliza da sua maestria e brinca de modo cruel com os sentidos. Outra vez começamos a conhecer o local a nossa volta, e descobrimos que o protagonista encontra-se na mesma cela que antes, mas agora iluminada por feixes de luz. Descobrimos que a masmorra é menor do que imaginávamos. No chão, alguns ratos perambulam pelo local. O homem está atado por cordas a uma estrutura de madeira, e alguns metros acima está um grande pêndulo, um pêndulo com uma extremidade tão afiada quanto uma foice.

  Aos poucos esse pêndulo vai balançando e descendo, mas muito devagar, para o homem conseguir contemplar sua morte vindo ao seu encontro. Depois de muito debate psicológico, no qual o homem varia entre aceitar a morte e tentar a fuga, nosso protagonista consegue encontrar um modo de fugir dessa situação. Ao seu lado encontra-se um pedaço de carne, a maior parte comida pelos ratos. Com uma mão solta, ele consegue pegar o pequeno pedaço e raspar a gordura nas cordas que o prendiam. Atraídos pelo cheiro, os ratos começam subir no homem, saem do poço e preenchem inteiramente o corpo do mesmo. Com seus pequenos dentes afiados, os ratos conseguem romper a corda que estava atando nosso personagem.

  Algo que é muito interessante nesta parte da estória é o fato do homem não ficar aliviado pelo fato de ter escapado do pêndulo, porque ele sabia muito bem que a sua morte era inevitável. Ele sabia que os padres o observavam, e que se não morresse pelo pêndulo, morreria de qualquer outra forma. Enquanto fica pensando nisso, a cela muda de forma. As paredes se movimentam, formando um losângulo. O recinto começa a ficar cada vez menor, e o miserável homem consegue ver que seu destino final é o poço que se encontra no meio da cela. Quando chega o momento final, quando seus pés estão raspando na borda do foço, um general francês irrompe no recinto e acaba com o movimento das paredes, e consequentemente, impede a morte do protagonista.

Incrível. Por favor, leia esse conto!


 

 

 

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